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terça-feira, 26 de abril de 2011

O velho furado e o sapato enrugado


Certa vez, um velho muito velho, rico e solitário, quebrou o silêncio, olhou para seu sapato. Sussurrou:
-Sapato se algum dia eu morrer, diga a todas àquelas pessoas que longe agora estão que as amo.
O sapato sem mais delongas, encurvou um de seus laços e rangiu:
-Ora seu velho, como se algum dia morrer? Todos morrem um dia, com seu velho diferente não haveria de ser.
-É mesmo um sapato gasto! Não sabe a diferença entre morrer e deixar a vida?
-Se essa existir, não conheço não senhor.
-Se algum dia eu morrer e nada de mim ficar, diga a todos aqueles que estão longe. Para que esses possam me tornar vivo novamente. E em suas memórias eu esteja .Mesmo que por curto tempo e não agradável sentimento possa acompanhar.
-Sou mesmo um sapato gasto. Onde está a diferença?
-Sapato velho! Se em pó eu me tornar, morto estarei. Mas se em abstrato eu ainda existir, apenas deixarei a vida, mas vivo ei de estar.
-E por que o senhor seu velho não diz com sua própria lingueta?
-Sapato enrugado! Disso nada te importa! Quando minha hora chegar, e morto me perceber. Fazes o que eu mando. Se não volto para em ti, pé assombrado calçar.
O sapato soltando os dois laços. Abandonou aquele velho ingrato e seu caminho foi seguir.
 O velho olhou para seus calos, e pensou no curto caminho que aquele pé cansado conseguiria percorrer:
-Sapato velho! Não mais um quero perder. Volta para meu pé! Agora a todos outros quero repetir o feito que faço a você.
O sapato esguichou sua palmilha, e num pulo desculpou o velho. Calçou seu pé cansado. E juntos foram tornar viva a despedida da vida do tal velho furado.





Luan Vieira

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Nulo

Hoje um alguém lhe ofereceu um prato irresistível.
Não recusou. Prometeu apreciar o prato. O tempero era a deliciosa e apimentada hipocrisia. Por falar em pimenta, o prato era mexicanamente picante. Mas ainda sim delicioso. Inegável.
Muitos o escolheria. Mas esse prato era muito mais calórico que uma saudável romã.
Entre um gole e outro d'água,parou, e sentiu um cheiro estranho vindo do prato.
Ficou entre se deliciar  ou esperar pelo amadurecimento da romã .
Decidiu não decidir.

Luan Vieira